segunda-feira, 7 de julho de 2008

Ontem vi os anjos empilhados no jardim
Apenas mirando, Tales, a ti e a mim, desencontrados...

Tu, ilha de pedra, terra demarcada, imóvel no caus oceanico que tantos horrores te traz
Eu, esguichos sem fim, ao teu redor, sem ter certeza do incômodo que te causo

Os telhados, untados de anjos
Os anjos tinham cabelos de luz.

Eu os xingava, exigindo suas almas e suas cores astrais

Mas o fato é que escorriam dos telhados, petrificados, imóveis, estátuas de bazar
Não se deliciavam, antes, sofriam no céu despedaçado
No azul de confeito, anilina jovem

Não podiam rezar por nós, Tales querido
Eram simétricos demais, quase inúteis, aqueles anjos...

Porque, afinal, não lhes deve interessar em nada nossos medos de amar e de morrer
Nem nossa imprecisão

Pois que cruzaram um certo tempo lunar
Donde eram envernizados todos os anjos a que me atenho
E oferecidos de prêmio, aos milhões, mesmo desandados


Ainda assim, eu lhes trago balas e perfumes, odienda
Implorenta
Luxurienta
Sem piedade alguma, Tales querido...

Pobres santinhos, no céu de brinquedo, míticos
E mais pobre o destino, da ilha ser terra e da água ser mar, para sempre