sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Das camadas vão descendo os véus
Incompreensíveis mas firmes, não titubeiam um segundo
Escorro lentamente

Para onde vai a massa nestas noites sem lua?
Parecem piões elétricos, de euforia desmedida
Decerto encontraram deuses nos botecos
Procurando como se já houvessem encontrado
Iluminações de mercadinho
Transitam rápido e logo esmorecem

Mas os véus, estes danados, despencando ainda
Trazendo tudo o que dói em mim
Profundamente
A complexidade do amor, deveras
A rima frágil
A trégua de criar
Os tateares estranhos das paixões
Os desencontrares
Os auto-enganos
E o amor em si, quando acontece, doendo mais do que qualquer lamento

Ó pai, eu também quero andar por entre as gentes!
E procurar como quem já achou
Não perceber a alma esfacelando com partidas
Não partir jamais, viver eternamente entrando!
Afundar feliz vendo as olimpíadas, que hão de me curar inteira, a mim, e a toda a humanidade
Ser como um pião, histérico e todo iluminado
Cair na cama com a pança engordurada!
Sonhar com a quina e querubins
Acordar virada
Contentar-me com a sorte, enfim

E não ser murrinha e corroída
Estraga prazeres dos convivas
Tentando transcrever os átomos indivizíveis
Criando linguagens por demais difíceis
Lembrando as faltas mascaradas
As más trepadas
As desilusões
O se sentir pequenininho
Desespecial e por vezes mesquinho

Dissolvo lentamente das camadas
Líquida
No mar há sempre um olho deserto.

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