domingo, 24 de agosto de 2008

Marcelo Ramos, de Muletas

(Para Aline Kundera)

Chamaram-a na agência onde trabalhava, apresentando o novo designer
Calvo, alto, quase esguio, e de muletas
Velho querubin reenviado

Pigarreou, mesmo que não fumasse a centenas
Deu cãimbras no peito, quase quebrou o salto
Não tropeçou, deveras

Dizem que tocaram sinos
Abriu-se uma caixa de pombas
Pingaram estrelas

Lhe chamou para jantar, que lhe mostrasse a cidade nas suas melhores cores
Ela embargou a voz e se fez perfeita
Durante 12horas
Três dias
Dois cafés na Praça da Paz

Até que algo entristecesse, e o tornasse corcunda, muito manco
Mais manco do que jamais supunha...
Querubim cheio de calos, lobo
Desdenhou da fera, nova em demasia
E começou com canos, recuos, desculpas

As pombas quedando-se aturdidas
Os ventos crispando-lhe os cabelos

Nenhum vestido satisfazia
A ausência daqueles dedos
(...) dádivas do velho senhor

Andava pela agência cometendo toda a sorte de equívocos
À disposição somente
De um certo rei distante
Um arcanjo falido
Apenas um atormentado

Atada.

Jogando o resto na lama, entregou o anel de noivado com outro paspalho qualquer
E foi ter com Marcelo Ramos o que nunca fora possível com outro, num passeio de navio

Um comentário:

Fazal e Aline disse...

Que história interessantíssima essa digna. De tão interessante e profunda tive a linda sensação de "de ja vù". Incrível, não?
Uma hora dessas conta-me mais sobre o moçoilo e a moçoila....